
Formação de médicos: um raio X da radiologia
Treinamento para a análise de radiografias durante a graduação é deficiente no Brasil, mostra estudo

Um estudo multicêntrico, realizado em diversos locais simultaneamente, feito com estudantes de medicina brasileiros mostrou que, do ponto de vista dos alunos, o treinamento em radiologia diagnóstica durante a graduação é deficiente. Apenas 27,8% tiveram treinamento obrigatório e 80% relataram que a quantidade de horas dedicadas aos estudos de radiologia é muito pequena.
A pesquisa, publicada na revista einstein (São Paulo), apontou que a maioria dos alunos se forma sem ter a confiança adequada para achados comuns de radiografias de tórax, como pneumonia, pneumotórax e derrame pleural, um exame muito solicitado.
O questionário usado na pesquisa foi aprovado pelo Institutional Review Boards e adaptado para o currículo das escolas de medicina brasileiras. Respondida por meio da plataforma SurveyMonkey, a pesquisa teve a participação de 879 estudantes de medicina provenientes de diferentes faculdades de medicina do Brasil.
As perguntas buscaram avaliar dados demográficos dos estudantes, sua visão a respeito do treinamento em radiologia diagnóstica durante a graduação e do contato com a radiologia diagnóstica durante o curso. Os pesquisadores também quiseram conhecer a percepção dos estudantes acerca da importância de os internos interpretarem os achados em várias modalidades de imagens.
Na amostra de 879 estudantes, a maioria dos respondentes (68,3%) era do sexo feminino e cursava os primeiros três anos da graduação. Apenas 5,8% consideravam a radiologia como primeira opção de residência, enquanto 36,5% ainda não haviam tomado uma decisão. A outra porção considerou clínica médica primeiramente (30,5%) e programas de bolsas em cirurgia (30,5%).
Treinamento radiológico ausente
O estudo mostrou que, entre aqueles que estavam em treinamento clínico no momento da pesquisa (64,2% da amostra), 34% não tiveram treinamento direcionado à radiologia diagnóstica, sendo obrigatório apenas para 27,8% dos respondentes.
No entanto, a solicitação para interpretar imagens radiológicas era prática frequente nas provas iniciais para a maioria dos estudantes que responderam à pesquisa (80,9% da amostra total).
Menos de um terço dos respondentes afirmou que havia recursos nas suas faculdades que permitiam a eles analisar imagens de forma independente (22,1%) e uma fração relatou interagir com radiologistas ao menos mensalmente durante o internato (10,1%).
A maioria dos alunos (80%) afirmou que a quantidade de tempo destinada aos estudos de radiologia durante a graduação era muito pequena.
Grande parte dos estudantes relatou nunca ter ouvido falar ou não ter familiaridade com os ACR Appropriateness Criteria do American College of Radiology (83,3%).
Menos de 20% receberam treinamento formal de segurança contra radiação, o que pode impedir a redução de risco de exposições desnecessárias tanto para pacientes como para profissionais de saúde.
Quando a pesquisa avaliou modalidades de imagem para as quais os alunos haviam recebido treinamento formal, as predominantes foram radiografia convencional (73,3%), tomografia computadorizada (59,7%), ressonância magnética (47,1%) e ultrassonografia (45,6%).
A capacitação em medicina nuclear, por exemplo, foi deficiente: apenas 15,5% dos alunos relataram ter sido treinados. Da amostra total, 24,5% dos entrevistados não receberam nenhum treinamento formal para interpretar imagens diagnósticas.
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