
Anticorpos biespecíficos contra o câncer
Quimioterápico com anticorpos específicos atinge apenas células tumorais, sem afetar as saudáveis

Os medicamentos para câncer são conhecidos pelos efeitos colaterais, resultado da toxicidade que afeta outras células humanas além dos tumores. O caminho para drogas mais direcionadas pode ter ficado mais curto, com o desenvolvimento de uma formulação do medicamento Caelyx que usa anticorpos capazes de ligar a droga apenas às células tumorais.
Os resultados foram publicados no ano passado na revista Science Translational Medicine.
O Caelyx é uma formulação da doxorrubicina, droga promissora para o tratamento de alguns tipos de câncer como a leucemia. No entanto, a toxicidade ainda pode ser um problema, principalmente para as chamadas leucemias de alto risco, que demandam grandes doses de quimioterápicos e têm maior probabilidade de voltarem após o tratamento.
Pesquisadores australianos adicionaram à formulação do Caelyx os chamados anticorpos biespecíficos, capazes de reconhecer e se ligarem tanto à droga quanto às células tumorais, servindo como uma ponte entre os dois. Com isso, o medicamento não afetaria células saudáveis, tendo uma ação específica contra o câncer.
“Encontrar uma forma de fazer medicamentos agirem mais seletivamente em células tumorais é a chave para aumentar as chances de sucesso do tratamento, reduzindo ainda a toxicidade para crianças com leucemias de alto risco”, disse em um informe à imprensa Maria Kavallaris, pesquisadora do Children’s Cancer Institute, da Austrália, que coordenou o estudo.
Maior flexibilidade
Os pesquisadores explicam que um aspecto interessante da abordagem é a flexibilidade, uma vez que ela pode ser usada para tratar qualquer tipo de leucemia, incluindo as de alto risco.
“Em vez de desenhar uma nova terapia a cada vez, tudo o que precisamos é mudar o anticorpo e então usar a mesma droga para qualquer leucemia infantil”, complementou Ernest Moles, pesquisador da mesma instituição, que assina a primeira autoria do artigo.
Outra possibilidade da nova abordagem é superar a resistência a medicamentos. Se o câncer tentar evadir-se da quimioterapia alterando a superfície da célula, o sistema poderia ser modificado de forma a reconhecer a célula tumoral alterada.
Nos testes, o sistema funcionou não apenas em células de leucemia cultivadas em laboratório como em modelos animais. Nestes últimos, a doença não apenas regrediu como a sobrevivência aumentou, em alguns casos, em até quatro vezes.
Os cientistas acreditam que a abordagem poderia ser usada para melhorar a seletividade de uma gama de agentes terapêuticos de nova geração, não apenas quimioterápicos.
“No futuro, é possível que cada criança diagnosticada com leucemia possa ter seu tratamento direcionado ao seu subtipo específico, baseado na análise de uma amostra de sangue”, projeta Kavallaris.
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