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21.01.2025 Infectologia

Covid longa: um marco para diagnóstico e tratamento

Comitê de especialistas dos EUA propõe definição para melhorar o diagnóstico e o tratamento dessa condição, que afeta milhões no mundo

Sombras da pandemia: covid longa afeta cerca de 60 milhões de pessoas globalmente e tem manifestações múltiplas, com possíveis centenas de sinais, sintomas e condições diagnosticáveis | Imagem: Fábio H. Mendes/E6 Imagens

Um comitê de pesquisadores nomeado pela Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos publicou uma definição completa da covid longa, que afeta 7% dos adultos e 1% das crianças apenas naquele país. 

O estudo, encomendado pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos norte-americano, foi publicado no New England Journal of Medicine em 2024.

O objetivo era desenvolver uma definição aprimorada, que levasse em conta as necessidades dos pacientes, assim como as visões e a compreensão de uma gama de especialistas. 

Além da revisão da literatura existente, foram realizados grupos focais, entrevistas e comentários colhidos de um portal criado para isso, além de encontros presenciais, incluindo um simpósio de dois dias. 

Mais de 1,3 mil pessoas participaram das atividades, incluindo pacientes, cuidadores, profissionais de saúde, pesquisadores e especialistas em políticas públicas.

Embora ainda seja percebida com uma infecção aguda – que matou cerca de sete milhões de pessoas no mundo, 10% disso apenas no Brasil – o vírus Sars-CoV-2 deixou milhões de pessoas com uma variedade de condições crônicas, sistêmicas e, muitas vezes, incapacitantes. 

A condição, que propositadamente não foi chamada de síndrome na definição por falta de evidências, afeta cerca de 60 milhões de pessoas globalmente.

“Como membros do comitê e líderes do grupo que produziu a definição, podemos atestar que o processo inspirou descoberta e uma valorização profunda pela realidade e severidade dessa condição”, escrevem os autores.

Um deles, E. Wesley Ely, do Vanderbilt University Medical Center, admite inclusive ter sido cético no começo. Tendo trabalhado com pacientes severamente debilitados em unidades de terapia intensiva e pesquisado suas trajetórias de vida por 25 anos, ele conta que a miríade de sinais e sintomas relatados pelos pacientes com covid longa poderiam ser consequência da chamada síndrome pós-terapia intensiva (SPTI), como problemas cognitivos, doença neuromuscular, depressão e fadiga intensa.

A hipótese caiu por terra quando os sintomas começaram a ser relatados por dezenas de milhares de pacientes da primeira onda da pandemia, a maioria sem nunca ter sido internada durante a fase aguda da infecção pelo Sars-CoV-2 e que teve apenas sintomas leves. 

“Grupos de pacientes se reuniram nas redes sociais e rapidamente se estabeleceram como cientistas cidadãos, cunhando o termo covid longa”, relatam os cientistas.

Múltiplas manifestações

De acordo com o documento, a covid longa “é uma condição crônica associada à infecção que ocorre após o contágio pelo Sars-CoV-2, presente por pelo menos três meses como uma doença contínua, remitente e recorrente ou estado de doença progressivo que afeta um ou mais órgãos”.

As manifestações são múltiplas, com possíveis centenas de sinais, sintomas e condições diagnosticáveis. 

Qualquer órgão pode estar envolvido e os pacientes podem ter desde falta de ar, tosse e fadiga persistente, a dificuldades em se concentrar, dores de cabeça recorrentes, enxaquecas, taquicardia, problemas de sono, falta de paladar e olfato, constipação e diarreia.

As condições podem incluir ainda doença pulmonar intersticial, cardiovascular, renal, fibromialgia, diabetes e desordens autoimunes como lúpus, artrite reumatoide e síndrome de Sjögren. 

Problemas cognitivos, distúrbios de humor, ansiedade e diabetes são outras ocorrências apuradas pelos pesquisadores.

A covid longa pode suceder tanto casos leves e severos de infecção pelo Sars-CoV-2 quanto assintomáticos. 

Pode, ainda, tanto ser contínua à fase aguda da doença como aparecer semanas ou meses após o que pareceu ser a recuperação completa da infecção aguda.

Afeta crianças e adultos, a despeito da saúde, deficiência ou condição socioeconômica, sexo, orientação sexual, raça, grupo étnico ou localização geográfica. Pode exacerbar condições de saúde preexistentes ou apresentar novas condições. 

A covid longa também pode variar de leve a severa, ser resolvida num período de meses ou persistir por meses ou anos. 

O diagnóstico é feito de forma clínica: não existem biomarcadores conclusivos que determinem a condição.

O artigo ainda ressalta que a covid longa pode prejudicar a capacidade do paciente de trabalhar, frequentar a escola, cuidar da família e cuidar de si próprio, resultando em profundos efeitos físicos e emocionais tanto no paciente, como em familiares e cuidadores. 

Os pesquisadores recomendam revisar a definição em três anos (por volta de 2027), com base no conhecimento científico a ser produzido. Argumentam ainda que a ideia da definição é facilitar a comunicação entre pacientes e membros da família e clínicos. 

“Uma definição padronizada deve permitir um melhor rastreamento da carga da covid longa e facilitar o desenho e a condução de estudos clínicos robustos que produzam melhores tratamentos para essa e outras condições crônicas associadas a infecções”, afirmam os autores.

“Acima de tudo, esperamos que essa definição contribua para o cuidado compassivo e efetivo de todos os pacientes diagnosticados com essa condição.”

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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