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04.04.2025 Oncologia

Sistema imune contra tumor cerebral

Pesquisa revela que células imunológicas modificadas com receptor CAR e citocina têm potencial para curar até 67% de camundongos com glioblastoma, abrindo caminho para novos tratamentos

Células do tipo natural killer (NK) modificadas com receptor CAR mostraram a maior taxa de cura em camundongos com glioblastoma, em comparação com outras células de defesa (linfócitos T e macrófagos) | Imagem: Shutterstock

Pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, conseguiram curar de 40% a 67% dos camundongos com glioblastoma, uma das formas mais agressivas de câncer cerebral.

Eles inseriram o gene do receptor CAR (chimeric antigen receptor), que reconhece o tumor e ativa a resposta imune, em três tipos de células do sistema imunológico retiradas do sangue dos animais: linfócitos T, macrófagos e células NK (Natural Killers).

O estudo foi publicado em 18 de fevereiro na revista Cell.

Além do CAR, que reconhece o tumor e desencadeia a resposta imune, os pesquisadores introduziram um segundo gene, responsável pela produção de citocina, uma substância que estimula a inflamação e potencializa a ação das células imunes. Em seguida, as células modificadas foram reinseridas na corrente sanguínea dos próprios animais.

Entre os três tipos de células testadas, as NK foram as mais eficazes: após 40 dias, curaram 4 de 6 camundongos (67%). Os macrófagos tiveram uma taxa de cura de 50%, e os linfócitos T, de 40%.

A abordagem se assemelha à terapia CAR-T, já aprovada para o tratamento de cânceres hematológicos, como linfomas, alguns tipos de leucemia e mieloma múltiplo. No entanto, a CAR-T apresenta limitações para o tratamento de tumores sólidos.

“Sem a citocina, as células imunes com o receptor CAR tiveram pouco efeito sobre o tumor: aumentaram ligeiramente a sobrevida dos camundongos, mas não os curaram”, escreveram os autores do estudo.

Desenvolvimento de novas terapias

Os pesquisadores sugerem que as terapias CAR-NK e CAR-macrófagos são alternativas promissoras aos linfócitos T modificados, pois apresentam menor risco de inflamação excessiva, um dos desafios da terapia CAR-T (saiba mais sobre terapias com células CAR-NK).

A bióloga molecular Erica Heipertz, da empresa norte-americana de biotecnologia Thermo Fisher Scientific, que não participou do estudo, também acredita no potencial da terapia CAR-NK.

Segundo ela, esse tipo de célula é especialmente seguro e não causou efeitos colaterais graves em ensaios clínicos com humanos, mesmo quando derivado de doadores – algo que não ocorre com a terapia CAR-T.

“As células NK podem ser mais uma opção para tumores do sangue ou, talvez, até para tratar tumores sólidos”, afirmou Heipertz ao site da empresa.

Diferencial

Outro diferencial do estudo foi o uso de camundongos com sistema imunológico intacto. Normalmente, pesquisas desse tipo são conduzidas em animais com o sistema imune suprimido, o que limita a compreensão das interações entre tumor e sistema imunológico.

Além de testar a eficácia dos diferentes tipos de células, os pesquisadores detalharam seus mecanismos de ação, o que pode auxiliar no desenvolvimento de novas terapias. Os linfócitos T modificados foram os que mais infiltraram o tumor, mas se acumularam menos sobre ele em comparação com as células NK e os macrófagos.

Os resultados reforçam a necessidade de explorar diferentes estratégias de engenharia genética para enfrentar tumores sólidos. “Entender as vantagens e limitações de diferentes células do sistema imune é crucial para desenvolver as próximas gerações de imunoterapias celulares”, concluem os pesquisadores.

Como funciona a terapia com células CAR?

Células do sistema imunológico são modificadas geneticamente para reconhecer e atacar tumores, potencializando a resposta imune.

Qual a diferença entre CAR-T, CAR-NK e CAR-macrófagos?

• CAR-T: eficaz contra cânceres do sangue, mas com risco de inflamação excessiva.

• CAR-NK: mais seguro e promissor para tumores sólidos.

• CAR-macrófagos: podem atuar melhor no microambiente tumoral.

Por que a citocina é importante no tratamento?

Ela estimula a inflamação, auxiliando as células CAR a combater o tumor de forma mais eficaz.

Por que o estudo usou camundongos com sistema imune intacto?

Isso permite entender melhor como o tumor e o sistema imunológico interagem, auxiliando no desenvolvimento de novas terapias.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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