
Carreiras na saúde ainda resistem a crises econômicas e de desemprego por automação
Alta empregabilidade do setor se deve a fatores como envelhecimento populacional e maior demanda por cuidados de saúde

Os profissionais da saúde estão entre os menos vulneráveis à automação e às crises econômicas. Apesar dos avanços da inteligência artificial (IA) e do risco de desemprego em setores automatizáveis, funções ligadas ao cuidado continuam essenciais e em expansão.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mesmo nas projeções mais conservadoras, o mundo pode ter um déficit de pelo menos 10 milhões de profissionais da saúde até 2030. Em cenários mais extremos, essa lacuna pode chegar a 78 milhões de pessoas. Só os Estados Unidos devem criar 1,9 milhão de novas vagas até o final da década, conforme o Bureau of Labor Statistics (BLS).
A tendência inclui não apenas médicos e enfermeiros, mas também profissionais como nutricionistas, fisioterapeutas, dentistas, fonoaudiólogos, farmacêuticos, veterinários e especialistas em aconselhamento genético ou saúde do trabalho.
Salários acima da média e demanda em alta
De acordo com o BLS, em maio de 2024 a remuneração média anual para cargos na área médica e técnica nos EUA chegou a US$ 83.090 (R$ 454.000), 67% acima da média nacional para todas as ocupações, estimada em US$ 49.500.
O envelhecimento populacional e o aumento das doenças crônicas, como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares, ajudam a explicar essa demanda.
Estudo da RAND aponta que nos EUA, 60% da população vive com alguma doença crônica. Além disso, cerca de 90% das despesas anuais com saúde são atribuídos ao tratamento de doenças crônicas e transtornos mentais, segundo informações dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC)
A saúde mental também exige atenção crescente. Segundo a OMS, casos de transtornos mentais aumentaram 13% na última década.
O CDC estima que mais da metade da população americana receberá um diagnóstico de saúde mental ao longo da vida.
No Brasil, os afastamentos por síndrome de burnout (esgotamento) cresceram quase 1.000% entre 2014 e 2023, de acordo com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Além disso, o McKinsey Health Institute destaca uma demanda reprimida nas regiões mais pobres do mundo, que concentram 60% da população global e ainda têm acesso restrito a cuidados essenciais.
América Latina: profissionais em falta
Na América Latina, a previsão é de déficit de 600 mil profissionais da saúde até 2030, para atingir a meta de 4,5 profissionais por mil habitantes, segundo a OPAS/OMS. Para oferecer cobertura a 80% da população, serão necessários cerca de dois milhões de profissionais em enfermagem, obstetrícia, odontologia e farmácia.
Com 546 mil médicos ativos, o Brasil tem uma média de 2,6 médicos por mil habitantes — mais que o dobro de 20 anos atrás, em grande parte devido à proliferação de faculdades de medicina. O número se equipara ao de países como Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7) e Japão (2,5), mas ainda há desigualdades severas.
Se o ritmo atual continuar, o Brasil terá 3,6 médicos por mil habitantes em 2028, um dos maiores índices do mundo. Porém, os profissionais seguem mal distribuídos: 62% estão nos grandes centros urbanos (com mais de 500 mil habitantes), que abrigam apenas 32% da população. As capitais concentram 54% dos médicos, mas só 24% da população brasileira.
Enquanto isso, municípios com até 50 mil habitantes, onde vivem quase 66 milhões de brasileiros, contam com apenas 8% dos médicos. A média é de 6,2 médicos por mil habitantes nas capitais, contra apenas 1,7 no interior do país.
Embora o Brasil não enfrente, por ora, escassez de enfermeiros, a má qualidade da formação preocupa. Segundo a OMS, faltam seis milhões de enfermeiros no mundo, e a tendência é de piora.
No Brasil, caso os problemas na formação persistam, é possível que mais profissionais deixem a área nos próximos anos.
*
É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).