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Pressão e falta de apoio: pesquisa revela desafios enfrentados por docentes no Reino Unido
Menos da metade dos docentes britânicos se sente capaz de lidar com carga de trabalho; relatório traz recomendações que podem inspirar mudanças no Brasil
Pressão por desempenho e sobrecarga estão entre os fatores que afetam o bem-estar na carreira docente | Imagem: Javier Trueba/Unsplash
Um levantamento com cerca de 240 mil funcionários de mais de 75 instituições de ensino superior do Reino Unido revelou uma realidade preocupante: menos da metade dos acadêmicos acredita que consegue manter um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional. A pesquisa pode ser acessada aqui.
Conduzido pela consultoria People Insight em parceria com a Associação de Empregadores de Universidades e Faculdades (UCEA), o estudo expôs disparidades marcantes entre docentes e profissionais de serviços administrativos.
De acordo com o relatório:
- Apenas 43% dos docentes sentem-se aptos a gerenciar confortavelmente sua carga de trabalho;
- Quando se trata de saúde mental e apoio institucional, o cenário também é desfavorável: apenas 44% dizem receber suporte adequado das universidades;
- 48% afirmam conseguir equilibrar trabalho e vida pessoal.
Entre os profissionais administrativos, os índices são consideravelmente mais altos:
- 63% relatam conforto com a carga de trabalho;
- 61% sentem-se apoiados quanto ao bem-estar;
- 71% dizem alcançar equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Ainda assim, os números estão abaixo da média de outros setores, alertou a revista eletrônica Times Higher Education (THE).
Satisfação versus benefícios
Outro ponto crítico do estudo é a baixa satisfação com os pacotes de benefícios oferecidos aos docentes: apenas 38% dos acadêmicos estão satisfeitos, contra 54% dos profissionais administrativos, índice que acompanha a média de outros setores.
Além disso, embora o trabalho híbrido tenha trazido maior flexibilidade e fortalecido a camaradagem nas equipes, houve uma queda na percepção de colaboração interdepartamental desde a pandemia.
A pesquisa alerta que os diferentes arranjos de trabalho, com horários conflitantes entre departamentos, têm limitado as oportunidades de interação presencial.
Acordos de trabalho híbrido, que provavelmente variam entre os departamentos, podem estar contribuindo para esse problema, já que horários conflitantes reduzem as oportunidades de interação presencial — essencial para uma colaboração interdepartamental eficaz, aponta o relatório.
Pequenos avanços e grandes lacunas
Entre os profissionais administrativos, a percepção de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho melhorou ligeiramente desde 2021 — um aumento de três pontos percentuais, atribuído à maior flexibilidade para o trabalho remoto parcial.
Já entre os acadêmicos, não houve progresso, o que reforça a necessidade de políticas institucionais mais direcionadas às suas demandas específicas.
Apesar das dificuldades, 87% dos docentes consideram seu trabalho interessante e desafiador.
Além disso, 80% relatam forte senso de realização pessoal, índices mais altos do que os observados em outros setores.
Isso demonstra o envolvimento dos acadêmicos com suas atividades, mesmo diante de condições adversas.
Recomendações práticas: caminhos para transformar o ambiente acadêmico
Com base nos resultados, o relatório propõe cinco recomendações-chave para as instituições de ensino superior. Apesar de focadas no contexto britânico, elas oferecem aprendizados úteis para universidades de outros países, incluindo o Brasil:
1. Aprimorar a colaboração interdepartamental: incentivar projetos interdisciplinares, canais de comunicação entre equipes e calendários compartilhados de eventos para fortalecer o trabalho conjunto.
2. Oferecer apoio efetivo à gestão da carga de trabalho: implementar treinamentos em gestão do tempo, reuniões regulares para redistribuição de tarefas e melhorias nos sistemas administrativos.]
3. Fortalecer iniciativas de bem-estar e equilíbrio: criar programas de saúde mental, escuta ativa e campanhas de conscientização sobre o uso de licenças, férias e flexibilidade.]
4. Melhorar os sistemas de reconhecimento e recompensa: estabelecer práticas claras de valorização, com reconhecimento formal, recompensas financeiras e incentivo à carreira docente.
5. Adotar uma abordagem de escuta contínua: realizar pesquisas frequentes de clima organizacional, grupos focais e planos de ação baseados nas demandas dos funcionários.
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