SOBRE
#Leitura Indicada

Autores propõem novo olhar para o diálogo entre saberes

Obra recém-lançada busca repensar articulação entre diferentes formas de conhecimento a partir do conceito de “convergências parciais”

Ilustração abstrata mostra dois agricultores e dois cientistas em diálogo, trocando gestos e ideias, simbolizando a colaboração entre saberes locais e conhecimento científico Livro de David Ludwig e Charbel N. El-Hani discute os principais desafios da transdisciplinaridade e propõe, apoiando-se em base filosófica, uma nova metodologia para articular diferentes sistemas de conhecimento no enfrentamento de crises globais | Imagem gerada por IA

O QUE RECOMENDAMOS?

O livro Transformative Transdisciplinarity: An Introduction to Community-Based Philosophy, de David Ludwig e Charbel N. El-Hani (Oxford University Press, 2025), que propõem uma abordagem inovadora para pensar e praticar a transdisciplinaridade como um processo transformador, unindo filosofia, ciência e ação comunitária.

POR QUE ESTE LIVRO É RELEVANTE?

Transformative Transdisciplinarity, de David Ludwig (Universidade de Wageningen, na Holanda) e Charbel N. El-Hani (Universidade Federal da Bahia, UFBA), propõe uma reconfiguração profunda das relações entre ciência, filosofia e sociedade. A obra critica abordagens transdisciplinares tradicionais, que buscam integrar diferentes formas de conhecimento de uma perspectiva dominada pela academia, levando a um recorte de outros sistemas de conhecimento apenas ao que soa aceitável para acadêmicos.

Os autores mostram que colaborações entre cientistas, comunidades indígenas e comunidades locais exigem lidar com diferentes valores, conhecimentos e poderes. Para Ludwig e El-Hani, a transdisciplinaridade transformadora confronta as desigualdades entre formas de conhecimento e seus detentores.

O QUE FAZ DESTA OBRA UMA LEITURA IMPERDÍVEL?

A principal inovação do livro está na metodologia de convergências parciais (partial overlaps), que busca identificar pontos de vista comuns entre diferentes sistemas de conhecimento sem perder de vista suas diferenças. Assim, promove diálogo e colaboração entre epistemologias, ontologias e valores distintos, rejeitando tanto a integração total quanto o isolamento radical dos saberes. Isso permite parcerias sem apagamento das diferenças culturais.

“A principal novidade do livro é situar a metodologia das convergências parciais dentro de um pano filosófico e político mais amplo, relativo a relações entre paternalismo, diversidade e decolonialidade epistêmicas”, explica Charbel N. El-Hani, da UFBA.

O livro também conecta debates sobre objetividade, injustiça epistêmica e tipos naturais, articulando a proposta das convergências parciais em toda a sua extensão.

Convergências parciais permitem diálogo e ação conjunta entre saberes acadêmicos e tradicionais, preservando diferenças epistemológicas, ontológicas ou de valores.

Exemplos concretos

Em comunidades pesqueiras do Nordeste brasileiro, pescadores e pesquisadores conseguem dialogar sobre espécies de peixes, como os robalos da espécie Centropomus undecimalis, compartilhando algumas categorias, mesmo divergindo nos critérios práticos e científicos. 

Em contextos agrícolas, agricultores classificam algumas espécies de interesse agrícola como fungos (pela aparência), enquanto cientistas as consideram insetos (por filogenia). 

Mas em projetos conjuntos, ambos os grupos reconhecem o saber do outro para criar estratégias de controle de pragas, sem precisar unificar ou conciliar critérios. 

Assim, o livro mostra como é possível coproduzir conhecimento sem eliminar o conflito — reconhecendo o poder transformador da diferença.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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