#Notícias
Anticorpos biespecíficos contra o câncer
Quimioterápico com anticorpos específicos atinge apenas células tumorais, sem afetar as saudáveis
Leucemias de alto risco demandam grandes doses de quimioterápicos, podendo resultar em efeitos coleterais devido à toxicidade dos medicamentos | Foto: Olga Kononenko/Unsplash
Os medicamentos para câncer são conhecidos pelos efeitos colaterais, resultado da toxicidade que afeta outras células humanas além dos tumores. O caminho para drogas mais direcionadas pode ter ficado mais curto, com o desenvolvimento de uma formulação do medicamento Caelyx que usa anticorpos capazes de ligar a droga apenas às células tumorais.
Os resultados foram publicados no ano passado na revista Science Translational Medicine.
O Caelyx é uma formulação da doxorrubicina, droga promissora para o tratamento de alguns tipos de câncer como a leucemia. No entanto, a toxicidade ainda pode ser um problema, principalmente para as chamadas leucemias de alto risco, que demandam grandes doses de quimioterápicos e têm maior probabilidade de voltarem após o tratamento.
Pesquisadores australianos adicionaram à formulação do Caelyx os chamados anticorpos biespecíficos, capazes de reconhecer e se ligarem tanto à droga quanto às células tumorais, servindo como uma ponte entre os dois. Com isso, o medicamento não afetaria células saudáveis, tendo uma ação específica contra o câncer.
“Encontrar uma forma de fazer medicamentos agirem mais seletivamente em células tumorais é a chave para aumentar as chances de sucesso do tratamento, reduzindo ainda a toxicidade para crianças com leucemias de alto risco”, disse em um informe à imprensa Maria Kavallaris, pesquisadora do Children’s Cancer Institute, da Austrália, que coordenou o estudo.
Maior flexibilidade
Os pesquisadores explicam que um aspecto interessante da abordagem é a flexibilidade, uma vez que ela pode ser usada para tratar qualquer tipo de leucemia, incluindo as de alto risco.
“Em vez de desenhar uma nova terapia a cada vez, tudo o que precisamos é mudar o anticorpo e então usar a mesma droga para qualquer leucemia infantil”, complementou Ernest Moles, pesquisador da mesma instituição, que assina a primeira autoria do artigo.
Outra possibilidade da nova abordagem é superar a resistência a medicamentos. Se o câncer tentar evadir-se da quimioterapia alterando a superfície da célula, o sistema poderia ser modificado de forma a reconhecer a célula tumoral alterada.
Nos testes, o sistema funcionou não apenas em células de leucemia cultivadas em laboratório como em modelos animais. Nestes últimos, a doença não apenas regrediu como a sobrevivência aumentou, em alguns casos, em até quatro vezes.
Os cientistas acreditam que a abordagem poderia ser usada para melhorar a seletividade de uma gama de agentes terapêuticos de nova geração, não apenas quimioterápicos.
“No futuro, é possível que cada criança diagnosticada com leucemia possa ter seu tratamento direcionado ao seu subtipo específico, baseado na análise de uma amostra de sangue”, projeta Kavallaris.
*
É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).