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17.09.2025 Clima e Saúde

Jerome Kim: Vacinas na linha de frente da crise climática

Diretor do International Vaccine Institute fala da urgência de novas soluções em vacinas para mitigar efeitos das mudanças climáticas na saúde, apesar das barreiras de custo, aceitação e financiamento

A imagem mostra o sul-coreano Jerome H. Kim, diretor-geral do International Vaccine Institute (IVI), organização internacional com sede na Coreia do Sul, falando e gesticulando Jerome H. Kim, do International Vaccine Institute: “O uso de vacinas aprovadas ainda não foi otimizado para o contexto das mudanças climáticas” | Imagem: Republic of Korea/Flickr

Vacinas podem mitigar parcialmente os impactos das mudanças climáticas na saúde, mas não representam uma solução global para um problema tão complexo. A afirmação de Jerome H. Kim, diretor-geral do International Vaccine Institute (IVI), organização internacional com sede na Coreia do Sul, pode soar desanimadora.

É, no entanto, um apelo esperançoso para que programas de vacinação e estudos com novos imunizantes sejam protegidos contra as pressões de movimentos negacionistas e embates geopolíticos que permeiam a pesquisa científica.

“Precisamos, como cientistas, ser capazes de refletir sobre como falamos de ciência para o público, e como convencemos as populações de que a vacinação é algo benéfico – inclusive no cenário das mudanças climáticas”, disse Kim no evento Climate and Health: challenges and possibilities of scientific diplomacy, realizado em agosto pelo Science Arena em parceria com a São Paulo Innovation and Science Diplomacy School (InnSciD SP) da Universidade de São Paulo (USP). 

O sul-coreano alertou que não existe uma vacina única e universal capaz de conter os efeitos da crise climática na saúde global. A “dura realidade” é que a humanidade depende de múltiplas vacinas para enfrentar uma série de doenças exacerbadas por eventos climáticos extremos – que favorecem a migração de vetores de patógenos e o aparecimento de novos vírus e bactérias. 

As mudanças climáticas, afirmou Kim, são um dos grandes desafios da sociedade, juntamente com o crescimento populacional, a escassez de recursos naturais (água e ar limpos) e conflitos sociais. “Nesse sentido, a saúde global interage com todos esses desafios, e uma solução parcial, que não considere essa interconexão, será ineficaz.”

A seguir, leia os principais trechos da apresentação de Jerome Kim.

1. A relação entre mudanças climáticas e saúde

Fenômenos como desmatamento, interação entre populações humanas e selvagens (zoonoses), escassez de água, secas e inundações podem causar surtos de doenças como cólera e sarampo, levando a migrações em massa. 

O aquecimento, a precipitação e as tempestades influenciam a disseminação de doenças transmitidas por vetores, pela água, pelo ar e por alimentos. 

[CITAÇÃO DESTACADA] A malária está se espalhando para regiões costeiras no Quênia, país da África Oriental. Já a cólera pode ocorrer tanto em inundações quanto em secas, onde as bactérias se concentram em fontes de água limitadas. 

2. A realidade das vacinas atuais

Existem vacinas aprovadas para cólera, febre tifoide, dengue, chikungunya e malária. Mas o uso dessas vacinas não foi otimizado para as mudanças climáticas ou para a população em geral. A resposta atual tende a ser reativa a surtos, ou seja, a “ponta do iceberg” de doenças endêmicas que poderiam ser controladas proativamente.

3. Demanda por novas vacinas 

Há uma necessidade urgente de novas vacinas contra bactérias como Shigella, cepas de E. Coli causadoras de diarreia, Salmonella não tifoide invasiva, ou mesmo vírus, como o causador da Febre Hemorrágica da Crimeia-Congo, que está se espalhando.

A inovação é crucial, incluindo o desenvolvimento de novas plataformas (ex.: vacinas em adesivos para reduzir a hesitação); novas combinações de vacinas (ex.: uma vacina que cubra cólera, febre tifoide e Shigella); novas vias de administração (intranasal, oral) e novos adjuvantes para tornar as respostas imunes mais fortes e duradouras, visando talvez uma dose única.

4. Desafios financeiros

A maioria dessas vacinas não é lucrativa (estimadas em US$1 a US$2 por dose), o que desincentiva a indústria a investir bilhões no seu desenvolvimento – ao contrário das vacinas de alto retorno como as de mRNA para covid-19. 

5. Negação e comunidade científica

Um problema subjacente é a negação da realidade das mudanças climáticas e da eficácia da vacinação. Os cientistas podem se engajar mais na tarefa de comunicar claramente sobre pesquisa e inovação, ajudando a convencer cidadãos e tomadores de decisão dos benefícios da vacinação no contexto das mudanças climáticas.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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