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Colaboração Interdisciplinar: “Ciência é também sobre encontros”
Capacidade de construir laços e integrar saberes complementares é fundamental para enfrentar desafios globais, defende pesquisadora do Einstein
A colaboração deve ser uma via de mão dupla, sendo benéfica para todas as partes envolvidas | Imagem: Unsplash
A pesquisadora Lis Leão, do Einstein Hospital Israelita e referência em estudos sobre natureza, saúde e bem-estar, participou de um encontro virtual do Science Arena para discutir a importância de construir e manter laços com pesquisadores de outras áreas científicas.
Atuando em iniciativas interdisciplinares, a colunista do Science Arena enfatizou que, no cenário atual, saber criar e fortalecer pontes entre diferentes campos do conhecimento é essencial.
Para Leão – que é graduada em Letras e em Enfermagem –, a colaboração deve ser uma via de mão dupla, sendo benéfica para todas as partes envolvidas.
A seguir, veja os principais tópicos abordados pela pesquisadora:
Motivação e perfil multidisciplinar
- O interesse pela ciência geralmente indica que a pessoa “não [gosta] muito de caixinhas fechadas”.
- A formação em Letras e Enfermagem moldou sua visão sistêmica: o enfermeiro é o “grande articulador do cuidado”.
- Sua trajetória é marcada por temas complexos que exigem “muitos olhares e muitos saberes”, como dor, natureza, clima e saúde pública.
A importância da colaboração
- A ciência precisa de colaboração para enfrentar problemas globais e complexos.
- Projetos interdisciplinares geram resultados mais amplos e relevantes para a sociedade.
- “Problemas grandes” exigem o trabalho de “muita gente”.
- Em projetos recentes, trabalhou com engenheiros, médicos, zoólogos, ornitólogos, fotógrafos da National Geographic e gestores de relações internacionais — inclusive utilizando softwares da NASA para análises.

Como iniciar a colaboração interdisciplinar
- O primeiro passo é ler publicações e identificar autores e áreas relacionadas ao tema.
- Criar uma lista de pesquisadores de interesse e acompanhar suas produções.
- Participar de eventos e ter “ousadia sem ser inconveniente”, aproveitando o pós-palestra para fazer contato direto.
- Jovens pesquisadores podem se oferecer para colaborar em projetos em andamento.
Desafios na relação e na comunicação
- A colaboração depende de relações humanas, baseadas na confiança.
- É fundamental ter uma “boa escuta” ativa.
- Usar metáforas e linguagem comum ajuda a conectar áreas diferentes.
- O líder do projeto deve evitar que os saberes desviem o foco da pesquisa e saber reconhecer ideias que pertencem a outros projetos futuros.
- A comunicação constante é chave para o avanço e manutenção dos vínculos.
- Celebrar as conquistas dos parceiros também fortalece os laços.
O papel da criatividade e dos interesses pessoais
- Mostrar interesses fora da ciência (como música ou fotografia) autoriza o outro a fazer o mesmo e enriquece a convivência.
- A criatividade é essencial no processo científico, da formulação da pergunta até a inovação e aplicação.
- Interesses pessoais podem inspirar projetos: Leão começou a estudar a relação entre natureza e saúde a partir da observação da vida selvagem, o que levou à criação de um banco de imagens voltado ao bem-estar.
Reflexões sobre financiamento e inteligência artificial
- Muitos editais hoje exigem equipes interdisciplinares.
- A legislação brasileira passou a demandar a participação das comunidades estudadas, o que exige ajustes finos em plataformas como o Sagem.
- A Inteligência Artificial (IA) pode agilizar etapas da pesquisa, mas só é útil para quem já domina a área.
- Para iniciantes, há risco de “atalho ruim” pela falta de pensamento crítico.
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