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24.10.2025 Trabalho

Mudança de carreira: “Formação científica precisa ser vista como trunfo profissional”

Habilidades desenvolvidas na pesquisa podem ser decisivas na transição para o mercado, avalia especialista

Ilustração abstrata mostra a transição de um cientista do meio acadêmico para o mercado de trabalho: uma silhueta azul com símbolos científicos e uma seta apontando para uma figura caminhando em direção a prédios, em tons de azul e laranja. Pesquisadores podem aproveitar competências adquiridas no ambiente acadêmico – como análise crítica e resolução de problemas – para conquistar espaço no mercado de trabalho | Imagem gerada por IA

Como valorizar e aproveitar anos de dedicação à pesquisa em uma carreira fora do ambiente acadêmico? Essa foi a pergunta central do terceiro encontro da série de conversas sobre carreira científica promovida pelo Science Arena, realizado virtualmente em 30 de setembro. 

O encontro teve a participação de Jaqueline Ribas, especialista na contratação de profissionais da pesquisa e fundadora da consultoria Pesquisa de Impacto, para discutir estratégias e desafios enfrentados por mestres e doutores que desejam migrar da vida acadêmica para o mercado de trabalho.

Na live, Ribas compartilhou experiências e orientações práticas sobre como pesquisadores podem valorizar suas habilidades, adaptar seus currículos e comunicar melhor seu potencial às empresas — sem renunciar à identidade científica construída ao longo dos anos.

Graduada em linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e mestre em gestão de produtos digitais pelo Nuclio Digital School, na Espanha, Jaqueline Ribas fundou a consultoria em 2021 com o propósito de ajudar profissionais da pesquisa a reposicionar suas carreiras e aproveitar habilidades fora do ambiente acadêmico

Confira abaixo o vídeo na íntegra: 

A seguir, veja os principais tópicos abordados na live:

1. Uso responsável da experiência acadêmica no mercado

A conversa abordou como a experiência acadêmica deve ser vista como uma trajetória profissional. Ribas destacou que é fundamental mudar a mentalidade de se ver apenas como “aluno(a)” ou “estudante”. 

A pesquisa é um trabalho, e a bagagem acadêmica deve ser valorizada para a transição, pois o profissional não está “começando do zero”.

A especialista enfatizou que a transição da academia para o mercado privado é uma mudança de ambiente, não necessariamente uma mudança completa de carreira, visto que há muitas semelhanças entre os processos da pesquisa acadêmica (como escrita científica e submissão de projetos) e as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em empresas. 

2. Competências valorizadas

Várias habilidades desenvolvidas na academia podem ser altamente valorizadas no mercado. Ribas citou como exemplos diversas competências, divididas em “interpessoais” e “práticas”:

Jaqueline Ribas, especialista na contratação de profissionais da pesquisa, sorri para a câmera, vestindo um casaco branco e um lenço estampado em tons terrosos, sobre fundo neutro
Jaqueline Ribas: “Há um medo comum entre mestres e doutores recém-formados de não conseguir oportunidades no mercado de trabalho por falta de experiência” | Imagem: Arquivo Pessoal

3. Estratégias para a transição

Para comunicar esse valor ao mercado, é necessário adotar estratégias específicas, especialmente no contexto dos processos seletivos modernos, que utilizam sistemas de triagem automatizada (ATS) de currículos. 

A. Posicionamento e linguagem: é preciso adotar uma postura de “pesquisador profissional”, em vez de estudante. O profissional deve saber usar vocabulário de mercado e trocar termos acadêmicos por equivalentes corporativos. Por exemplo, substituir “pesquisa acadêmica” por “pesquisa científica/de P&D” e “orientação de alunos” por “liderança/supervisão de profissionais”).

B. LinkedIn e plataforma Lattes: o LinkedIn, rede social voltada para negócios e inserção profissional, é a principal ferramenta para buscar vagas. É necessário entender, portanto, que a plataforma Lattes (base de dados que reúne milhões de currículos de pesquisadores e estudantes do Brasil) comunica com o meio acadêmico, enquanto o LinkedIn comunica com empresas e indústrias.

Nesse sentido, é fundamental adaptar o conteúdo do currículo acadêmico para um perfil no LinkedIn. Essa “tradução” deve focar nas responsabilidades e resultados do indivíduo, e não apenas nos objetos de estudo de suas pesquisas.

C. Busca de vagas: recomenda-se procurar por vagas utilizando termos mais amplos da área (Ex.: genética) e não subáreas ou termos científicos muito específicos (Ex.: genética de células germinativas). A busca por vagas de trabalho deve ser feita com qualidade, limitando-se a no máximo cinco candidaturas por semana, otimizando o currículo para cada oportunidade – de forma que as competências descritas no currículo correspondam aos pré-requisitos do cargo.

D. Entrevistas:  é importante se preparar com antecedência para a entrevista de emprego. É crucial estar preparado para o clássico pedido “Conte-me mais sobre você” (usando técnicas de apresentação breve, direta e convincente, como a abordagem elevator pitch). Para responder perguntas e apresentar suas habilidades, pode-se usar o método conhecido como STAR (Situação, Tarefa, Ação e Resultado).

E. Networking: estabelecer e manter uma rede de contatos é valioso para abrir portas e conseguir informações sobre a área. Contudo, o networking não sustenta a contratação; o profissional precisa convencer na entrevista. A melhor forma de fazer networking é perguntar sobre a jornada da pessoa e se abster de pedir emprego diretamente, mantendo sempre uma postura positiva e valorizando a própria trajetória.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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