SOBRE
#Ensaios
10.05.2024 meio ambiente

Mudanças climáticas e sustentabilidade: o papel dos hospitais

É fundamental que os serviços de saúde, em especial os hospitais, tenham maior dimensão e consciência de sua pegada de carbono

Vista panorâmica de uma grande enchente na cidade de Eldorado, vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo, Brasil, após fortes chuvas atingirem a região | Imagem: Shutterstock

A humanidade tem exercido grandes interferências nos ecossistemas terrestres, que estão sendo alterados rapidamente, em especial nos últimos 100 anos, ameaçando o planeta com a chamada sexta extinção em massa.

Essas alterações estão associadas com as mudanças climáticas, as quais têm impactado na temperatura planetária, nos níveis de precipitações, no balanço hídrico, na química oceânica, na frequência e magnitude de eventos climáticos extremos, entre tantos outros problemas, tornando as mudanças climáticas a principal questão de saúde pública da humanidade.

Simultaneamente, o próprio setor de saúde, enquanto tenta resolver os problemas intrínsecos dessa área, muitos decorrentes dessas mudanças climáticas atuais, acaba agravando-os devido aos produtos e tecnologias que emprega, ao grande volume de resíduos sólidos que produz, por consumir muitos recursos, como água e energia, pelos grandes edifícios que constrói e utiliza, constituindo uma fonte significativa de poluição e emissão de muitos gases de efeito estufa (GEE).

Assim, os serviços de saúde, em especial hospitais, intensificam, mesmo que não intencionalmente, as tendências que ameaçam a saúde pública.

Tamanho impacto do setor saúde pode ser notado quando o comparamos a um país. Isso porque, caso reuníssemos todos os hospitais do mundo, eles ocupariam a quinta posição mundial na emissão de GEE, enquanto o Brasil ocupa, atualmente, a 7ª posição mundial.

A assistência hospitalar gera grandes impactos à saúde e ao meio ambiente, tanto nas etapas prévias como durante e após a prestação da assistência à saúde.

Dessa forma, é fundamental que os serviços de saúde, em especial os hospitais e as equipes de saúde, tenham maior dimensão e consciência de sua pegada de carbono, de sua grande emissão de GEE, que agrava as mudanças climáticas e, por conseguinte, podem levar ao adoecimento de muitas pessoas, gerando um ciclo vicioso.

Desde 2011, a rede Saúde sem Dano mantém uma agenda, a Agenda Global para Hospitais Verdes e Saudáveis, com o intuito de contribuir para que os serviços de saúde adotem práticas mais sustentáveis em todo o mundo, podendo ser replicada por hospitais e sistemas de saúde em diversos países e em diferentes contextos de assistência à saúde.

Essa agenda propõe 10 objetivos:

Hospitais e sistemas de saúde têm potencial para desempenhar um papel de liderança frente às mudanças climáticas, não apenas de se adaptarem aos impactos dessas mudanças, mas também de mitiga-las, promovendo a sustentabilidade e a equidade na saúde humana e ambiental.

Os hospitais também podem implantar processos visando a chamada Governança Corporativa, Social e Ambiental (ESG, na sigla em inglês), como edifícios mais saudáveis, compras verdes, uso de energia renovável e a implementação de operações sustentáveis, entre outros.

Hospitais e sistemas de saúde podem alavancar sua situação econômica e sua reputação moral perante a comunidade, contribuindo para a realização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio relacionados com a saúde e a sustentabilidade, enquanto, ao mesmo tempo, ajudam a promover uma economia verde.

Portanto, hospitais e trabalhadores do setor da saúde podem liderar a promoção da saúde planetária tornando-se modelos de práticas sustentáveis, trabalhando cobenefícios ambientais, econômicos e sociais que melhorem a saúde da população para além do papel tradicional do setor da saúde na prestação de cuidados de saúde humana de qualidade.

Essa ação é emergencial neste momento, buscando desenvolver hospitais amigos do clima e que promovam também a saúde de nosso planeta.

Karina Pavão Patrício é professora do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista, campus de Botucatu (FMB-UNESP) e coordenadora do Núcleo de Hospitais Sustentáveis do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB).

Os artigos opinativos não refletem necessariamente a visão do Science Arena e do Einstein.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

Ensaios

0 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
Receba nossa newsletter

Newsletter

Receba nossos conteúdos por e-mail. Preencha os dados abaixo para assinar nossa newsletter

Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!
Cadastre-se na Newsletter do Science Arena