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12.06.2024 Pesquisa clínica

Covid-19: níveis elevados de imunidade dificultam testes clínicos

Ensaios clínicos conduzidos entre 2021 e 2022 não encontraram dose do Sars-CoV-2 capaz de infectar voluntários nos chamados estudos de desafio

As cepas usadas em estudos de desafio são produzidas sob condições rigorosas, em um processo que pode levar seis meses ou mais, tornando impossível acompanhar as variantes em circulação | Imagem: Shutterstock

Em março de 2021, quando a pandemia de Covid-19 mantinha todo mundo dentro de casa e as vacinas ainda não estavam amplamente disponíveis, pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, lançaram o primeiro teste de infecção voluntária de Covid-19 do mundo. Testes de infecção voluntária, comumente chamados de “testes clínicos de desafio” são ensaios clínicos em que voluntários recebem a vacina em teste ou um placebo para, em seguida, serem deliberadamente infectados com o vírus.

O estudo em questão identificou uma dose minúscula da cepa Sars-CoV-2, que circulou nos primeiros dias da pandemia e que poderia infectar cerca de metade dos voluntários que ainda não havia sido infectada anteriormente pelo vírus.

Paralelamente, uma equipe liderada por Helen McShane, pesquisadora de doenças infecciosas em Oxford, lançou um segundo estudo em pessoas que se recuperaram de infecções por Sars-CoV-2 contraídas naturalmente, causadas por uma série de variantes. O ensaio posteriormente inscreveu participantes que também haviam sido vacinados.

Os participantes receberam uma pequena dose da cepa chamada “ancestral” do Sars-CoV-2. Como ninguém desenvolveu uma infecção sustentada, os pesquisadores aumentaram cada vez mais a dose nos grupos subsequentes de participantes, até atingirem um nível 10 mil vezes superior à dose inicial. Alguns voluntários desenvolveram infecções de curta duração, mas que desapareceram rapidamente.

“Ficamos bastante surpresos”, disse Susan Jackson, pesquisadora clínica do estudo em Oxford e coautora do trabalho. “No futuro, se você quiser um estudo de desafio de Covid-19, terá que encontrar uma dose que infecte as pessoas”, disse ela em entrevista à revista Nature.

Um ensaio similar em andamento no Imperial College London, no Reino Unido, no qual os participantes foram expostos à variante delta do Sars-CoV-2, também encontrou problemas para infectar os participantes de forma confiável, de acordo com Christopher Chiu, imunologista e médico de doenças infecciosas da instituição.

Alguns participantes tiveram infecções, mas provavelmente não o suficiente para um estudo testar se uma vacina funciona, disse Chiu, na mesma reportagem da Nature.

“Precisamos de uma cepa para teste que seja mais representativa em relação ao que está circulando na comunidade”, complementa Anna Durbin, cientista de vacinas da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, que foi membro do conselho que supervisionou a segurança do mais recente ensaio de reinfecção.

As cepas usadas em testes como esses são produzidas sob condições rigorosas, em um processo que pode levar seis meses ou mais, dizem os cientistas, tornando impossível acompanhar as variantes em circulação.

Novos caminhos

Após essas constatações, os pesquisadores estão procurando outras maneiras de transmitir a Covid-19 às pessoas. Jackson, de Oxford, diz que pode ser necessária uma dose ainda mais elevada de Sars-CoV-2 – semelhante às doses utilizadas em ensaios contra a gripe, nos quais os participantes têm uma imunidade considerável.

Outro método considera dar doses múltiplas aos voluntários. Chiu diz que sua equipe está explorando a possibilidade de rastrear potenciais participantes com baixos níveis de proteção imune contra a variante BA.5 (Ômicron) e outras cepas.

Chiu lidera um consórcio que recebeu US$ 57 milhões da União Europeia e da Coligação para Inovações na Preparação para Epidemias (CEPI), em Oslo, para realizar ensaios e testar vacinas inaladas e intranasais contra a Covid-19 – que também podem bloquear a transmissão.

Ele está esperançoso de que mudanças nos protocolos de testes resolvam esse problema.

“O que realmente desejamos é um modelo que reproduza uma infecção genuína e, idealmente, que cause alguns sintomas”, acrescenta.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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