
Espuma de grafeno reconecta medula espinhal em camundongos
Material leve e condutor favorece regeneração neural em lesões da coluna e pode inspirar novos tratamentos para paralisias

Uma equipe do Instituto de Ciências Materiais de Madrid (ICMM), na Espanha, conseguiu reconectar a medula espinhal de camundongos com lesão completa na altura do tórax, região responsável pelos movimentos das pernas.
O grupo utilizou uma espuma de grafeno para estimular a regeneração do tecido nervoso, conforme descrito em artigo publicado na revista Bioactive Materials.
“Os resultados são visíveis após 10 dias e promissores após 4 meses”, relatou a bióloga Maria Concepción Serrano, uma das autoras do estudo, em entrevista ao site do ICMM.
Segundo ela, o tratamento estimulou o crescimento de vasos sanguíneos maiores e mais abundantes dentro da espuma, crucial para nutrir o novo tecido e reparar os nervos da medula.
Avanço promissor para tratar paralisias
Além da vascularização, a equipe observou o crescimento de neuritos — prolongamentos que conectam neurônios entre si — mais longos, numerosos e bem distribuídos na espuma.
Em testes com eletroencefalograma (EEG), os pesquisadores estimularam a região da medula abaixo da lesão e detectaram resposta neural em áreas do tronco cerebral ligadas à função motora, o que indica que houve reconexão entre medula e cérebro.
Lesões medulares, muitas vezes irreversíveis, podem causar paraplegia (perda de movimento nas pernas) ou tetraplegia (paralisia do tronco e membros).
Estima-se que ocorram de 6 mil a 8 mil casos de lesão por ano no Brasil, segundo artigo publicado em 2019 na revista ESTIMA – Brazilian Journal of Enterostomal Therapy.
Tecnologia em evolução
A equipe de Madrid já havia testado o tratamento em camundongos com lesão parcial da coluna e quis verificar se a espuma, que promove a regeneração dos neurônios mesmo sem ter nenhum componente biológico, estimula a cicatrização mesmo na lesão total.
A espuma de grafeno usada no experimento é formada por camadas de óxido de grafeno, material ultraleve e altamente condutor — que passam por tratamento térmico a 220 °C.
Esse processo elimina o excesso de oxigênio e reforça a estrutura, aumentando a estabilidade mecânica e a capacidade de conduzir impulsos elétricos.
O tratamento não curou completamente os animais. Eles continuaram com pouca força nas patas de trás — mas conseguiram manter a coluna esticada (sem a escoliose observada antes do tratamento), e mostraram maior estabilidade do tronco e mobilidade da coluna.
Nos próximos estudos, a equipe pretende desenvolver nanomedicamentos, para estimular ainda mais a recuperação da medula.
*
É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).