
IA aumenta taxa de colonoscopias nos EUA
Estudo realizado em Nova York identificou, com a ajuda de tecnologia digital, pacientes oncológicos que faltaram ao exame de colonoscopia

Um estudo conduzido no Montefiore Einstein Comprehensive Cancer Center, em Nova York, nos Estados Unidos, usou um aplicativo de inteligência artificial (IA) para entrar em contato com pacientes que não compareceram ao seu exame de colonoscopia, dobrando a taxa de comparecimento deste grupo.
Alyson Moadel-Robblee, psicóloga especializada em oncologia do Centro, apresentou os resultados durante o encontro anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO) – entidade criada em 1964, nos Estados Unidos, que reúne médicos e profissionais de saúde do mundo todo ligados à oncologia, com o objetivo de incentivar pesquisas e ações voltadas aos diversos tratamentos de câncer.
Em parceria com a empresa de tecnologia MyndYou, os profissionais criaram uma inteligência artificial conversacional para fazer contato com os pacientes que não fizeram o exame.
A tecnologia ajudou a duplicar a taxa de conclusão da colonoscopia neste grupo faltante.
Segundo a pesquisadora, o rastreio de busca dessas pessoas de forma automatizada é fundamental em um contexto em que os funcionários do próprio hospital não dão conta de chegar nos quase três mil pacientes anuais que não fazem o teste colorretal.
“Desde a pandemia, a demanda e a carga da nossa equipe de saúde são enormes. Eles não podem fazer muito”, disse Moadel-Robblee durante o evento, de acordo com reportagem publicada no site Stat. “E não podem ligar à noite ou em qualquer hora.”
A IA, apelidada de MyEleanor, liga para pacientes que não compareceram ou cancelaram o exame. Se eles atenderem, ela dá duas opções: transferi-los para um atendente humano ou, se o paciente consentir, orientá-los através de uma breve pesquisa sobre o motivo pelo qual ele faltou à consulta.
“Nossa navegadora virtual não dorme. Ela pode ligar em vários horários e em dias diferentes”, resume Moadel-Robblee.
Segundo a psicóloga, houve todo um cuidado para que MyEleanor não parecesse demasiado humana.
Ex-pacientes oncológicos foram ouvidos e disseram não gostar de robôs que deixam dúvida se são humanos ou não.
Assim, MyEleanor mantém a fala de um robô, mas, Moadel-Robblee faz questão de frisar, sem parecer impessoal. “Ela é muito calorosa”, disse sua criadora. “Ela diz: ‘Eu sou Eleanor. Falo inglês e espanhol, qual você prefere? Faço parte da equipe de atendimento.”
No Bronx, em NY, onde um quarto da população fala espanhol, e considerando que muita gente nos Estados Unidos deixa de fazer exame por causa da barreira linguística, ser atendido em espanhol é uma função muito importante do robô.
Mais exames e tempo livre
Dos 2,4 mil pacientes para os quais MyEleanor ligou, 57% permaneceram na linha com o bot. Entre estes, mais da metade concordou em ser transferido para um atendente para tentar reagendar a consulta.
Os humanos, por sua vez, conseguiram aumentar a proporção de pacientes que completaram a colonoscopia de 10% para 19%. Além disso, o aplicativo ajudou a liberar em média 52 horas de trabalho por mês de cada atendente.

São números considerados muito bons, dado que proporção significativa dos moradores do Bronx é mal servida e pode enfrentar múltiplas barreiras no acesso aos cuidados.
De acordo com o estudo, além dos pacientes que falam espanhol, cerca de 40% deles são negros, 32% estão desempregados e apenas cerca de 40% têm escolaridade além do ensino médio.
Pacientes negros e latinos têm maior probabilidade de serem diagnosticados com câncer colorretal em idades mais jovens.
Médicos e pesquisadores de câncer que estavam presentes na conferência da ASCO elogiaram a iniciativa, ainda segundo a Stat.
“É um meio verdadeiramente inovador de aumentar o rastreio do câncer”, disse Fumiko Chino, oncologista de radiação do Memorial Sloan Kettering Cancer Center.
“Isso realmente alivia a carga de uma força de trabalho sobrecarregada na área da saúde, aproveitando a tecnologia de IA para otimizar a capacidade de alcance às populações vulneráveis”, afirmou Chino.
Segundo Moadel-Robblee, a ideia é que o MyEleanor também seja usado, muito em breve, em outros programas de prevenção do câncer, incluindo de pulmão e de mama.
*
É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).