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08.11.2024 Medicina

Quando a desprescrição de remédios é necessária?

Médicos devem interromper prescrição de medicamentos cardiovasculares diante de potenciais danos ou quando houver melhores alternativas, alertam pesquisadores

Pesquisadores da Áustria e dos Estados Unidos defendem o aprofundamento de estudos a respeito de quando e como médicos devem deixar de prescrever medicamentos para condições cardiovasculares | Imagem: Shutterstock

Uma das bases da prática médica é a prescrição de medicamentos, baseada em evidências obtidas em estudos clínicos. Estes, porém, normalmente testam a adoção de novos medicamentos de uso contínuo em ensaios de curta duração.

Muito menos atenção é dada à questão da descontinuação de tratamentos farmacológicos, especialmente após um período de tratamento em que o paciente envelhece e as doenças podem progredir e novas condições podem surgir.

Dada a escassez de dados, as diretrizes da prática clínica oferecem pouca ou nenhuma orientação sobre quando e como desprescrever medicamentos para condições cardiovasculares.

As decisões são muitas vezes deixadas à critério dos clínicos que, junto com seus pacientes, decidem parar com algum tratamento por conta de efeitos colaterais.

“Mesmo na ausência de efeitos adversos, a continuação de medicamentos sem efeito comprovado pode causar prejuízo devido a interação medicamentosa, emergência da chamada polifarmácia e gastos adicionais que poderiam ser evitados para sistemas de saúde já sufocados”, defendem pesquisadores dos Estados Unidos e da Áustria em artigo no European Heart Journal, da Sociedade Europeia de Cardiologia.

Tipos de medicamentos

A publicação traz uma lista de tipos de medicamentos e as respectivas condições nas quais devem ser descontinuados por causar prejuízo ao paciente, não ter efeito comprovado ou pela existência de melhores opções.

Os autores trazem ainda uma abordagem a ser aplicada por clínicos para descontinuar certos tratamentos, levando em conta as expectativas dos pacientes.

Pacientes com insuficiência cardíaca avançada, por exemplo, muitas vezes expressam preferência por qualidade em vez de extensão de vida, o que chama a atenção para a potencial discrepância entre as expectativas do médico e do paciente, escrevem os autores.

“Além disso, cada um pode perceber a severidade dos efeitos colaterais de forma diferente, como fadiga e disfunção erétil.”

Entre os 11 tratamentos que podem causar prejuízo, os pesquisadores listam, por exemplo, antiplaquetários em pacientes com doença cardiovascular estável que já tomam anticoagulantes por via oral. Evidências mostram que a abordagem aumenta o risco de hemorragia, sem redução de eventos isquêmicos.

Suplemento de óleo de peixe para redução do risco de doença cardiovascular é um dos sete tratamentos cuja descontinuação é recomendada pelos autores por falta de benefício comprovado.

Por sua vez, drogas que dispõem de melhores alternativas incluem a varfarina em casos de fibrilação atrial e clopidogrel após síndrome coronária aguda. Estes e mais quatro tratamentos podem, segundo os autores, ser substituídos por outros com mais benefícios.

De acordo com os autores, uma grande barreira para a desprescrição de medicamentos é a falta de evidências de alta qualidade sobre o tema.

Isso inclui a falta de informações sobre o processo e o tempo da descontinuação, a estratégica correta (trocar por outro, parar parcial ou totalmente), ausência de dados sobre a eficácia de medicamentos em idosos com comorbidades e de informações sobre interação entre medicamentos.

Os autores advogam que os comitês para diretrizes de prática clínica devem incluir uma revisão estruturada regular dos medicamentos a serem utilizados, incluindo a desprescrição como uma diretriz a ser seguida.

Além disso, financiamento à pesquisa deve ser fornecido para investigar estratégias escaláveis para o procedimento.

Os pesquisadores afirmam, no artigo, que, como clínicos, é dever deles assegurar que seus pacientes sejam tratados com medicamentos atualizados e baseados em evidências, de forma a reduzir morbidade e mortalidade, além de melhorar a qualidade de vida.

Também afirmam que tão ou mais importante é prevenir danos desnecessários causados por drogas ou intervenções comprovadamente capazes de prejudicar os pacientes.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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