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02.06.2023 Neurociência

O poder da meditação

Estudo demonstra alterações na atividade cerebral relacionadas à dor a partir de curso de atenção plena

Saúde Mental: O poder da meditação sobre a dor Segundo especialistas, fazer meditação em um tempo bastante curto também gera resultados em relação ao bem-estar | Crédito: Fábio H. Mendes / E6 Imagens

Em tempos em que a saúde mental da população é colocada à prova por pandemias e crises econômicas, saber o que realmente faz diferença para se ter uma melhor qualidade de vida é decisivo. Um passo importante nesse sentido ocorreu na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, onde cientistas americanos isolaram alterações elétricas cerebrais relacionadas à dor.

Um detalhe importante é que os participantes do estudo ficaram oito semanas em um curso de redução de estresse baseado em atenção plena (mindfulness). Os resultados deste levantamento foram publicados na revista The American Journal of Psychiatry

De acordo com Joseph Wielgosz, líder do projeto e atualmente em estágio de pós-doutorado na Universidade de Stanford, a pesquisa é a primeira a demonstrar alterações na atividade cerebral relacionadas à dor a partir de um curso de meditação amplamente oferecido em clínicas voltadas para a prática.

Para medir a resposta neural à dor, os participantes tiveram seus cérebros escaneados enquanto recebiam um estímulo de calor no antebraço. Os pesquisadores registraram duas assinaturas de atividades relacionadas à dor no cérebro. A técnica, desenvolvida por Tor Wager, professor de neurociência no Dartmouth College, que também participou do grupo de investigadores, ajuda a pinçar com mais precisão as atividades cerebrais diretamente ligadas à dor que ocorrem no emaranhado de processos neuronais no cérebro.

A importância da prática

“Assim como um atleta experiente pratica um esporte de maneira diferente de um iniciante, os praticantes experientes de mindfulness parecem usar seus ‘músculos’ mentais de maneira diferente em resposta à dor em comparação aos meditadores iniciantes”, explicou Wielgosz, por meio de nota.

O estudo sugere que o treinamento prático para que mente e corpo escapem dos julgamentos, e funcionem centrados no presente, leva os participantes a aprenderem a responder à dor com menos angústia e mais flexibilidade psicológica – o que pode levar à redução da própria dor. São descobertas, segundo os cientistas, que podem ajudar a mostrar o potencial da prática de mindfulness como um estilo de vida.

“São resultados robustos muito em sintonia com os obtidos aqui no Brasil”, afirma a bióloga Elisa Harumi Kozasa, pesquisadora do Einstein. De acordo com ela, existem trabalhos mais longos que mostram inclusive que a anatomia cerebral muda após a prática de atividades bastante específicas de meditação. 

“Aqui no Brasil, um estudo que acompanhou mulheres idosas que praticavam regularmente um tipo determinado de yoga mostrou isso. Depois de oito anos, a espessura do córtex cerebral mudou”, informa Kozasa.

O trabalho comparou 21 mulheres com mais de 60 anos que praticavam hatha yoga por pelo menos oito anos com um grupo – também de 21 mulheres – que nunca tinha feito nenhuma sessão. “Eu não uso o termo mindfulness, porque existe muita discussão sobre o que de fato pode ser englobado nele. Prefiro focar na prática, como yoga ou mesmo treinamentos específicos que seguem protocolos já definidos, voltados para atenção ao momento presente e abstração de julgamentos”, adverte Kozasa. 

A yoga, por exemplo, atestam várias pesquisas, é uma atividade corpo-mente que requer atenção e que vem sendo associada a mudanças positivas na estrutura e na função cerebral, especialmente em áreas relacionadas à consciência, atenção, funções executivas e memória.

De acordo com Kozasa, apesar das alterações em estruturas cerebrais estarem associadas a um tempo longo de prática de yoga, por exemplo, fazer meditação em um tempo bastante curto também gera resultados em relação ao bem-estar, apesar de não mudar a anatomia cerebral. “Isso foi demonstrado em um outro estudo que fizemos durante a pandemia de Covid-19.”

Kozasa e colaboradores recrutaram uma amostra de 717 pessoas para participar da pesquisa. Por sorteio, metade da amostra recebeu um áudio de 2 minutos e 3 segundos com notícias negativas da pandemia. Outra metade escutou notícias que eram positivas. Depois disso, todos receberam um segundo áudio, de 3 minutos e 19 segundos, de meditação. Ou seja, com instruções para um relaxamento rápido. 

“Mesmo nesse espaço curto de tempo, a meditação surtiu efeito e mitigou os efeitos das notícias negativas. O que mostra que praticar atividades como meditação ajuda a melhorar as respostas emocionais”, afirma Kozasa.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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