
Sistema imune contra tumor cerebral
Pesquisa revela que células imunológicas modificadas com receptor CAR e citocina têm potencial para curar até 67% de camundongos com glioblastoma, abrindo caminho para novos tratamentos

Pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, conseguiram curar de 40% a 67% dos camundongos com glioblastoma, uma das formas mais agressivas de câncer cerebral.
Eles inseriram o gene do receptor CAR (chimeric antigen receptor), que reconhece o tumor e ativa a resposta imune, em três tipos de células do sistema imunológico retiradas do sangue dos animais: linfócitos T, macrófagos e células NK (Natural Killers).
O estudo foi publicado em 18 de fevereiro na revista Cell.
Além do CAR, que reconhece o tumor e desencadeia a resposta imune, os pesquisadores introduziram um segundo gene, responsável pela produção de citocina, uma substância que estimula a inflamação e potencializa a ação das células imunes. Em seguida, as células modificadas foram reinseridas na corrente sanguínea dos próprios animais.
Entre os três tipos de células testadas, as NK foram as mais eficazes: após 40 dias, curaram 4 de 6 camundongos (67%). Os macrófagos tiveram uma taxa de cura de 50%, e os linfócitos T, de 40%.
A abordagem se assemelha à terapia CAR-T, já aprovada para o tratamento de cânceres hematológicos, como linfomas, alguns tipos de leucemia e mieloma múltiplo. No entanto, a CAR-T apresenta limitações para o tratamento de tumores sólidos.
“Sem a citocina, as células imunes com o receptor CAR tiveram pouco efeito sobre o tumor: aumentaram ligeiramente a sobrevida dos camundongos, mas não os curaram”, escreveram os autores do estudo.
Desenvolvimento de novas terapias
Os pesquisadores sugerem que as terapias CAR-NK e CAR-macrófagos são alternativas promissoras aos linfócitos T modificados, pois apresentam menor risco de inflamação excessiva, um dos desafios da terapia CAR-T (saiba mais sobre terapias com células CAR-NK).
A bióloga molecular Erica Heipertz, da empresa norte-americana de biotecnologia Thermo Fisher Scientific, que não participou do estudo, também acredita no potencial da terapia CAR-NK.
Segundo ela, esse tipo de célula é especialmente seguro e não causou efeitos colaterais graves em ensaios clínicos com humanos, mesmo quando derivado de doadores – algo que não ocorre com a terapia CAR-T.
“As células NK podem ser mais uma opção para tumores do sangue ou, talvez, até para tratar tumores sólidos”, afirmou Heipertz ao site da empresa.
Diferencial
Outro diferencial do estudo foi o uso de camundongos com sistema imunológico intacto. Normalmente, pesquisas desse tipo são conduzidas em animais com o sistema imune suprimido, o que limita a compreensão das interações entre tumor e sistema imunológico.
Além de testar a eficácia dos diferentes tipos de células, os pesquisadores detalharam seus mecanismos de ação, o que pode auxiliar no desenvolvimento de novas terapias. Os linfócitos T modificados foram os que mais infiltraram o tumor, mas se acumularam menos sobre ele em comparação com as células NK e os macrófagos.
Os resultados reforçam a necessidade de explorar diferentes estratégias de engenharia genética para enfrentar tumores sólidos. “Entender as vantagens e limitações de diferentes células do sistema imune é crucial para desenvolver as próximas gerações de imunoterapias celulares”, concluem os pesquisadores.
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Como funciona a terapia com células CAR?
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Células do sistema imunológico são modificadas geneticamente para reconhecer e atacar tumores, potencializando a resposta imune.
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Qual a diferença entre CAR-T, CAR-NK e CAR-macrófagos?
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• CAR-T: eficaz contra cânceres do sangue, mas com risco de inflamação excessiva.
• CAR-NK: mais seguro e promissor para tumores sólidos.
• CAR-macrófagos: podem atuar melhor no microambiente tumoral.
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Por que a citocina é importante no tratamento?
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Ela estimula a inflamação, auxiliando as células CAR a combater o tumor de forma mais eficaz.
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Por que o estudo usou camundongos com sistema imune intacto?
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Isso permite entender melhor como o tumor e o sistema imunológico interagem, auxiliando no desenvolvimento de novas terapias.
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