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08.03.2024 História

Resgate da memória e resistência indígena

Professora do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará recomenda obra que resgata história da população indígena no período da ditadura

Fotografias presentes no documento conhecido como ‘Relatório Figueiredo’, elaborado no final da década de 1960 e que indicava irregularidades do antigo Serviço de Proteção ao Índio (atual Funai). Com 7 mil páginas, o relatório foi preparado pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia e denunciava atrocidades cometidas contra povos indígenas em vários estados do país | Acervo: Armazém Memória

O QUE RECOMENDO: 

O documento Memórias da Ditadura: Indígenas, material que compõe o portal Memórias da Ditadura, produzido pelo Instituto Vladimir Herzog

POR QUE VALE A LEITURA?

Quando aprendemos na escola sobre a população indígena, pensamos no início da vinda dos colonizadores portugueses, com aquelas figuras cândidas dos indígenas recebendo Pedro Álvares Cabral (1467-1520) e sua esquadra.

Porém, não foi assim que tudo aconteceu.

Quando os primeiros portugueses chegaram ao Brasil, a população indígena era estimada em torno de 5 milhões de pessoas, organizadas em mais de 2 mil povos. Este número caiu para cerca de 100 mil indígenas na década de 1960.

O que mais me impressionou no conteúdo produzido pelo Instituto Vladimir Herzog, e que eu desconhecia, foi ler sobre os horrores passados por muitas destas comunidades durante o período descrito como “de desenvolvimento” pela ditadura militar (1964-1985) no Brasil, que dizimou completamente a população de indígenas.

Vários projetos, em diferentes partes do país, expulsaram os indígenas de seus territórios e provocaram milhares de mortes nas aldeias. 

A abertura da rodovia Transamazônica (BR-230), por exemplo, afetou de maneira trágica 29 grupos indígenas, dentre eles onze etnias que viviam completamente isoladas. 

A Comissão Nacional da Verdade (CNV, que vigorou de 2011 a 2014) apontou homicídios, torturas, mortes em conflitos e em remoções forçadas, crises de abastecimento e mesmo epidemias inoculadas propositalmente, no caso no sul do estado da Bahia.

A grave situação dos sobreviventes deste “ciclo de desenvolvimento”, levou o Brasil a ser condenado no II Tribunal Russell, realizado em 1975.

Ligia Regina Franco Sansigolo Kerr é médica, professora titular da Universidade Federal do Ceará (UFC) atuando no Programa Especial de Participação de Professores Aposentados (PROPAP). É graduada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), mestra e doutora em Medicina Preventiva pela USP e foi pesquisadora de pós-doutorado em epidemiologia na Harvard School of Public Health e em epidemiologia na University of California San Francisco. Foi membro do Comitê de Eliminação da Hanseníase do Ministério da Saúde, do Comitê de Pesquisa do Programa Nacional de AIDS do Ministério da Saúde e da Comissão Nacional de AIDS do Programa Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde. Faz parte do corpo editorial dos Cadernos de Saúde Pública, das revistas Culture, Health and Sexuality e One Health & Implementation Research.

Os artigos opinativos não refletem necessariamente a visão do Science Arena e do Einstein.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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