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07.08.2023 Saúde Coletiva

Transtornos mentais em adolescentes: panorama preocupante

Estudo aponta mais internações de adolescentes por transtornos mentais e comportamentais nos últimos anos

Transtornos mentais em adolescentes: panorama preocupante O Brasil registrou um total de 152.465 hospitalizações de adolescentes entre 2008 e 2017 devido a transtornos mentais e comportamentais | Foto: Shutterstock

Uma análise das internações de adolescentes entre 10 e 19 anos por transtornos mentais ao longo de um período de nove anos, de 2008 a 2017, revelou um panorama preocupante da saúde mental dessa faixa etária no Brasil.

O estudo, conduzido por pesquisadoras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), utilizou informações do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para traçar um quadro das hospitalizações relacionadas a problemas mentais nesse período.

De acordo com os resultados, o Brasil registrou um total de 152.465 hospitalizações de adolescentes devido a transtornos mentais e comportamentais, entre eles depressão e ansiedade. Esse número representa um aumento na taxa geral de internações, que passou de 41,6 para cada 100 mil habitantes (41,6/100 mil) para 47,8/100 mil. Esse crescimento chama a atenção para a necessidade de maior atenção e cuidado com a saúde mental dos jovens.

Outra constatação do estudo, publicado no periódico Cadernos de Saúde Coletiva, foi que a região Sul do Brasil concentra o maior volume de internações da população estudada. Ao longo do período analisado, as taxas nessa região passaram de 89,8/100 mil para 139,5/100 mil.

Também foi observada uma tendência de crescimento na região Norte, onde as taxas subiram de 13,7 para 21,6/100 mil. Já as hospitalizações nas regiões Sudeste e Centro-Oeste se mantiveram estáveis, com valores de 39,6 para 43,9/100 mil e 58,9 para 46,3/100 mil, respectivamente. No Nordeste, houve uma diminuição, de 27,7 para 23,1/100 mil.

O estudo também apontou que, de modo geral no período, a internação de mulheres com idades de 10 a 19 anos aumentou de 27/100 mil para 38/100 mil. As pesquisadoras apontam que os meninos tendem a enfrentar mais transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas, enquanto as meninas são mais afetadas por transtornos alimentares e depressivos.

A pesquisa ressalta a importância de se discutir abordagens específicas de acordo com o gênero na prevenção e tratamento dos transtornos mentais e comportamentais.

Limitações

Apesar de trazer importantes insights sobre a saúde mental dos adolescentes no país, onde estima-se que 30% deles sejam acometidos por algum transtorno mental, o estudo apresenta algumas limitações. Os dados analisados são restritos aos serviços de assistência pública. Além disso, a subnotificação de transtornos mentais e comportamentais continua sendo um desafio.

O aumento dos diagnósticos e internações pode estar relacionado ainda com o fato de a saúde mental ter se tornado uma prioridade do Ministério da Saúde em 2010. O cuidado direcionado a esses indivíduos, juntamente com a implementação de políticas de saúde e novas estratégias de assistência, resultou em um aumento nos encaminhamentos para internações hospitalares.

Naquele ano, eventos como a implementação do Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas (CAPS AD III), 24 horas por dia, impactaram o cenário. O serviço proporciona suporte aos indivíduos com necessidades decorrentes do uso de substâncias como álcool e outras drogas.

Outra ação havia estabelecido ainda os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – Modalidade 3 (NASF 3), com foco na atenção integral aos usuários de crack, álcool e outras drogas em municípios de menor população. Segundo as pesquisadoras, essas ações e políticas públicas ambulatoriais contribuíram para a estabilidade das internações hospitalares em decorrência do uso de álcool e drogas psicoativas nas diferentes regiões do Brasil.

As autoras reforçam que estudos epidemiológicos desempenham um papel fundamental ao fornecer dados sobre crianças e adolescentes afetados por problemas de saúde mental, além de informar sobre a necessidade, disponibilidade e acesso aos serviços. São informações essenciais para o planejamento de serviços de prevenção e tratamento adequados.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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