Sobre
#Entrevistas
19.07.2023 Oncologia

Reações à imunoterapia

Lidia Arantes, do Hospital de Amor, busca compreender diferentes respostas ao tratamento de câncer de pulmão

Imagem: Shutterstock

Lidia Maria Rebolho Batista Arantes é pesquisadora do Hospital de Amor, antigo Hospital de Câncer de Barretos, no interior de São Paulo, onde coordena projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) sobre inibidores de checkpoint imunológico e imunofenotipagem. Seu objetivo é detectar marcadores capazes de identificar os pacientes com câncer de pulmão de células não-pequenas (NSCLC, na sigla em inglês) que reagem e os que não reagem à imunoterapia.

O câncer de pulmão é responsável por 1,6 milhão de mortes por ano – a maior taxa de mortalidade entre todos os tipos de câncer. Dos pacientes com câncer de pulmão, 85% têm NSCLC.

Arantes é formada em biotecnologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), com pós-doutorados no Centro de Pesquisa em Oncologia Molecular do HCB e na Universidade de Pittsburgh, nos Estados. Nessa entrevista, ela fala sobre sua pesquisa e explica o que são checkpoints imunológicos.

Qual é a finalidade de sua pesquisa e o que ela busca resolver?

Lidia Arantes – O objetivo da pesquisa que coordeno é identificar marcadores capazes de distinguir pacientes com câncer de pulmão de células não-pequenas respondedores daqueles pacientes não-respondedores à imunoterapia com inibidores de checkpoint imunológico. Em outras palavras, queremos diferenciar os pacientes que respondem ou não respondem à imunoterapia.

A imunoterapia é especialmente indicada para pacientes com doença avançada e metastática. Apesar da alta taxa de resposta à imunoterapia, alguns não respondem – ou adquirem resistência. Assim, nosso projeto visa à caracterização da composição do sistema imune que impulsiona ou impede respostas efetivas a essa terapia.

Nosso objetivo, portanto, é aumentar a taxa de resposta e a qualidade de vida dos pacientes, e o que viabiliza isso é entender como o sistema de defesa do corpo ajuda ou atrapalha a resposta à terapia.

Lidia Arantes, do Hospital de Amor, em Barretos (SP): projeto visa à caracterização da composição do sistema imune que impulsiona ou impede respostas efetivas à imunoterapia | Foto: Arquivo Pessoal.

O que são checkpoints imunológicos?

Os checkpoints imunológicos funcionam como mecanismos de defesa e de modulação da resposta imune, pois são capazes de evitar respostas inflamatórias excessivas ou até mesmo a autoimunidade, após as células de defesa terem encontrado antígenos estranhos e iniciado as cascatas de proliferação das células imunes. Esses “pontos de verificação”, que são expressos em diferentes células do nosso corpo, modulam a homeostase de sinais co-estimulatórios e co-inibitórios, importantes para manter a tolerância imunológica. Ajudam a regular a resposta imunológica, funcionando como pontos de verificação que evitam respostas inflamatórias excessivas, ou “calibram” sinais estimulatórios e inibitórios que mantêm a resposta imune equilibrada.

Quais são as especificidades do carcinoma de pulmão de células não pequenas?

O câncer de pulmão de células não pequenas corresponde a 85% dos casos de câncer de pulmão, e pode ser subdividido em três principais tipos: adenocarcinoma, carcinoma de células escamosas e carcinoma de células grandes.

O adenocarcinoma é o subtipo mais prevalente, compreendendo cerca de 40% dos casos, e acomete a periferia do pulmão, originando-se nas células epiteliais das pequenas vias aéreas.

O crescimento tumoral é mais lento, o que possibilita o diagnóstico em estágios iniciais. Além disso, as altas taxas de incidência do adenocarcinoma podem estar relacionadas à amplitude do acometimento desse tumor, uma vez que afeta homens e mulheres, fumantes ou não fumantes, independentemente da idade.

O segundo mais incidente é o carcinoma de células escamosas, representando de 25% a 30% de todos os casos. Este é fortemente relacionado ao tabagismo e apresenta origem nas células basais do epitélio das vias aéreas. O terceiro mais incidente é o carcinoma de células grandes, que representa cerca de 5% a 10% dos casos.

Quais os resultados preliminares já obtidos?

No momento ainda estamos fazendo a inclusão prospectiva dos pacientes no estudo, com a coleta de amostras biológicas. Esta coorte [amostra de pacientes incluídos no estudo] é composta por 52,6% de pacientes do sexo masculino, com idade variando de 51 a 66 anos. Apenas 15,8% dos pacientes declararam nunca terem fumado, seguidos por 47,4% de pacientes que são ex-fumantes e 21% que são fumantes ativos. O tipo histológico mais prevalente foi o adenocarcinoma com 68,4% dos casos, seguido de 26,3% de carcinoma de células escamosas. Nesta casuística, predominou-se o estadiamento [etapa da doença] avançado, sendo 52,6% estádio III e 47,4% estádio IV. O tecido fixado em formalina e embebido em parafina mostrou positividade para PD-L1 em ​​57,9% dos casos e mutação KRAS em 31,6%.

O que significa “positividade para PD-L1”?

Significa a presença dessa proteína na superfície das células tumorais, que faz com que o corpo não reconheça tais células como alteradas. Alteração no gene KRAS leva à ativação contínua da proteína, fazendo com que as células cresçam e se dividam de forma descontrolada. Além disso, o medicamento pembrolizumabe (52,6%) foi o tratamento mais frequente, seguido de durvalumabe (31,6%) e nivolumabe (10,5%).

Novas análises estão em andamento e os resultados obtidos poderão ser aplicados na prática clínica, permitindo um melhor desenho prognóstico, além do desenvolvimento de novos regimes terapêuticos, contribuindo para melhores taxas de sobrevida e qualidade de vida. Embora a imunoterapia represente um grande avanço no tratamento do NSCLC, ainda apresenta desafios que precisam ser superados para beneficiar um maior número de pacientes.

Entrevistas

Receba nossa newsletter

Newsletter

Receba nossos conteúdos por e-mail. Preencha os dados abaixo para assinar nossa newsletter

Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!