Sobre
#Notícias
27.02.2024 Saúde Mental

A depressão pode empobrecer relações

Estudo mostra que pessoas deprimidas respondem de maneira mais apática a estímulos de interação social

A depressão pode empobrecer relações Pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) identificaram que indivíduos deprimidos ficaram com medo de rejeição após observar imagens de interações sociais Foto: Damir Samatkulov/Unsplash

Um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) indica que pessoas com depressão podem ter uma baixa capacidade de resposta ao contexto social. 

A conclusão é baseada em testes que mostraram apatia nas expressões faciais de pessoas com sintomas depressivos diante de imagens que, em voluntários sem depressão, estimularam o músculo da face responsável pelo sorriso. 

O estudo publicado na revista Scientific Reports sugere que esse fator pode ser determinante para interações sociais menos ricas e, ainda, para que essas pessoas evitem contato com outras.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores submeteram 85 voluntários a um questionário usado por psicólogos para detectar sintomas depressivos, o Inventário de Depressão de Beck (BDI). Essa parte do experimento permitiu separar os participantes entre deprimidos e não deprimidos.

Em seguida, foram fixados dois eletrodos no lado esquerdo do rosto, sobre o músculo zigomático, cujo movimento permite expressões faciais como o sorriso. Três blocos de 28 imagens foram então apresentados aos voluntários em uma tela. 

O primeiro bloco apresentava fotos de objetos, consideradas neutras nesse tipo de teste; o segundo e o terceiro blocos eram de pares de pessoas, compostos de um adulto e uma criança ou de duas crianças. A diferença é que, no segundo, as pessoas interagiam, olhando uma para a outra, enquanto no último, usado como controle, as mesmas duplas não interagiam entre si.

Os sinais musculares captados pelos sensores eram transmitidos para um amplificador, indicando o estímulo do músculo zigomático, usado em estudos do tipo como uma medida das reações emocionais.

Depois da exibição de cada um dos dois últimos blocos, os participantes respondiam a dois questionários com uma série de adjetivos. Um dos testes mede a expectativa de aproximação da pessoa com os outros e o medo de rejeição. Outro avalia o nível de altruísmo de cada um diante das imagens.

Músculo do sorriso

O grupo sem sintomas de depressão teve uma ativação maior do músculo zigomático durante a visualização das imagens com interação do que nos blocos neutros e controle. Neste grupo de pessoas, a ativação do músculo foi maior do que naqueles cujos participantes tiveram sintomas depressivos detectados. 

A ativação do músculo aumentava à medida que o tempo passava. Isso ocorreu sobretudo durante a exibição das fotos de pessoas interagindo.

As respostas aos questionários que se seguiram à visualização das imagens mostraram que o medo de rejeição foi levemente reduzido nas pessoas sem depressão depois do bloco de interação, quando comparado ao bloco de imagens de objetos. 

Entre os deprimidos, o medo de rejeição foi significativamente maior do que nos não deprimidos após visualizarem as imagens de interação e do bloco controle.

Os não deprimidos tiveram mais expectativa de aproximação, independentemente do bloco de fotos. Da mesma forma, tiveram comportamento mais altruísta do que os deprimidos.

“Sugerimos que os indivíduos com depressão têm menor responsividade ao contexto social, como refletido pela apatia nas suas expressões faciais”, escrevem os autores. “Portanto, esse fator pode ser um determinante para que tenham interações sociais menos ricas e evitem contato com outras pessoas.”

Os pesquisadores lembram que estudos sobre interações sociais relatam tristeza e angústia na expressão facial de pessoas deprimidas, incluindo baixa atividade do músculo zigomático para evitar exprimir simpatia, disposição em ajudar ou proximidade pelos que estão em seu entorno.

Outros estudos enfatizam ainda que comportamentos interpessoais de pessoas com esse perfil levam à rejeição por pessoas com quem convivem. Os comportamentos reforçariam o ciclo de solidão e acabariam acentuando a depressão. 

A partir dos resultados do estudo, os autores supõem que a interação social não é um estímulo agradável o suficiente para pessoas com depressão, resultando na falta de mudança na expressão de sorriso.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

Notícias

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
Receba nossa newsletter

Newsletter

Receba nossos conteúdos por e-mail. Preencha os dados abaixo para assinar nossa newsletter

Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!
Cadastre-se na Newsletter do Science Arena