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01.04.2024 Inovação

Instituto Pasteur é exemplo de transferência de tecnologia na saúde 

Organização francesa conseguiu investir e lucrar com registro de patentes e criação de startups

Foto da inauguração do inauguração do Instituto Pasteur de São Paulo Em visita à Universidade de São Paulo em 27 de março, o presidente da França Emmanuel Macron se encontrou com jovens pesquisadores do Instituto Pasteur de São Paulo (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)

É consenso entre especialistas que a transferência de tecnologia é fundamental para o progresso da ciência, em especial para fins de saúde. Embora políticas públicas em todo o mundo, inclusive no Brasil, estimulem a parceria entre universidades, instituições e empresas, os resultados ainda estão muito aquém do ideal. Neste contexto, o Instituto Pasteur, da França, destoa do padrão e é considerado um bom exemplo. 

A análise é parte de uma nota técnica assinada por Tulio Chiarini, analista do Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O texto mostra como a instituição conseguiu investir em parcerias com a indústria em registro de patentes e na criação de startups. 

Somente no período de 2010 a 2022, cerca de 428 milhões de euros (R$2,3 bilhões) foram obtidos em receitas pelo instituto provenientes da exploração de criações desenvolvidas por seus pesquisadores, individualmente ou com outras entidades. 

De acordo com a nota, publicada no site do Ipea, a principal razão de tal feito está na estruturação de uma diretoria específica para esse fim. A Diretoria de Aplicação da Pesquisa e Parceria Industrial (Direction des Applications de la Recherche et des Relations Industrielles, DARRI) tem como objetivo agilizar o acesso a soluções médicas e produtos para os pacientes, seja por meio de parcerias industriais, licenciamentos ou startups. 

“A atuação desta diretoria desempenha papel crucial ao facilitar a transformação das descobertas científicas em soluções concretas, contribuindo para a melhoria da saúde pública de forma significativa”, escreve Chiarini, do Ipea.

Dados sobre o orçamento do Instituto Pasteur mostram que ele vem crescendo ao longo dos anos: de 296 milhões de euros (R$1,5 bilhão) em 2010 para 367 milhões de euros (R$1,9 bilhão) em 2022. 

A renda do Pasteur vem de quatro fontes: doações, subsídios públicos, contratos com o setor privado (de pesquisa e prestação de serviços) e recebimento de royalties. Este último, resultado dos esforços da diretoria, varia conforme o ano: em 2022 foi de 6,6%, mas em 2011, por exemplo, chegou a 15,3%. 

O analista cita ainda outros fatores que fazem do Pasteur um exemplo.

Um deles é a legislação francesa. Embora o instituto já tenha um bom histórico na relação com as empresas, o autor cita uma alteração legal que pode ter contribuído para “acelerar o transbordamento tecnológico”: uma disposição que autoriza os pesquisadores a criarem startups para aproveitar os resultados de suas pesquisas. 

Em 2019, ano de promulgação da Lei Allègre, o Instituto Pasteur estabeleceu sua Aceleradora de Inovação (Accélérateur d’innovation). Desde então, 30 startups foram criadas, 17 delas ainda ativas e seis listadas na bolsa de valores.

Uma das empresas, a SpikImm, foi criada em tempo recorde, 28 dias, com o objetivo de desenvolver anticorpos monoclonais humanos (mAbs) para prevenir a Covid-19. O pesquisador do Ipea atribui essa agilidade também ao modelo de gestão da diretoria, que destrava as burocracias clássicas da área. 

O sucesso da DARRI é comprovado ainda por outros dados apresentados. No período de 2010 a 2022, foram registradas 735 declarações de invenção (um primeiro passo para uma patente), 293 depósitos de patentes prioritárias, 87,3 milhões de euros (R$ 470 milhões) em receitas provenientes de contratos de P&D com a indústria e 474,7 milhões de euros (R$ 2,5 bilhões) em royalties, aproximadamente 11% da receita total do Instituto Pasteur no período. 

O autor ressalta que o sucesso da DARRI dificilmente seria replicado em outros contextos, mas lembra que ele pode servir de inspiração para outras instituições similares.

“Em termos ilustrativos, enquanto a receita proveniente de royalties do Instituto Pasteur em 2022 foi de 24,2 milhões de euros (R$133 milhões), a da UFRJ foi de R$1,02 milhão e a da Unicamp de R$1,9 milhão”, cita. 

História e reconhecimento 

Fundado em 1887 pelo cientista Louis Pasteur, o Instituto Pasteur é uma fundação privada sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa científica e à prevenção e tratamento de doenças infecciosas. 

É conhecido por suas contribuições para o campo da medicina e pela participação na descoberta e no desenvolvimento de vacinas, diagnósticos e terapias. Além do próprio Pasteur, outros pesquisadores e pesquisadoras vinculados ao instituto foram agraciados com uma dezena de prêmios Nobel. 

Atualmente, o instituto conta com a colaboração de quase 3 mil funcionários de 78 nacionalidades diferentes, localizados em Paris. Além de sua sede, o Pasteur estabeleceu uma rede de cooperação científica conhecida como Pasteur Network, que reúne 33 instituições parceiras em 25 países. 

No Brasil, possui relações de cooperação consolidadas com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade de São Paulo (USP).

Em 2023, foi estabelecido o Instituto Pasteur de São Paulo – organização privada sem fins lucrativos – que surgiu de um convênio tripartite assinado em 2015 entre o Instituto Pasteur, a USP e a Fiocruz.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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