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23.02.2024 Saúde do Trabalho

O alcance das práticas de bem-estar no trabalho

Estudo britânico revela que em lugar de meditação, coaching e gerenciamento de estresse, empresas deveriam focar em melhorar condições de trabalho

Legenda: William J. Fleming, da Universidade de Oxford, concluiu em estudo que algumas das ferramentas oferecidas no ambiente corporativo podem até piorar o bem-estar dos funcionários | Foto: Shutterstock

Ao longo dos últimos anos, iniciativas de bem-estar no trabalho, como práticas de meditação, gerenciamento de estresse, uso de aplicativos específicos e voluntariado se tornaram quase obrigatórias dentro das empresas. No Reino Unido, onde a maioria dos trabalhadores têm acesso a tais ferramentas, foi realizado um estudo para atestar a eficácia dessas práticas no bem-estar dos trabalhadores. E a conclusão é de que elas não surtem efeito.

Publicado no Industrial Relations Journal, o trabalho foi realizado pelo pesquisador William J. Fleming, do Centro de Pesquisas sobre Bem-Estar da Universidade de Oxford. Fleming se baseou nas respostas dadas à pesquisa Empresas Britânicas mais Saudáveis para Trabalhar (“Britain’s Healthiest Workplace”) de 2017 e 2018, que teve a participação de mais de 40 mil trabalhadores de 233 organizações. 

O pesquisador considerou resultados de 90 intervenções diferentes de bem-estar e comparou trabalhadores que tinham participado de alguma dessas iniciativas com outros que não tinham feito nada. 

A conclusão foi que aqueles que passaram por algum programa de bem-estar não tiveram resultados muito melhores do que os do outro grupo.

A única exceção encontrada foi entre os trabalhadores que tiveram a oportunidade de fazer algum trabalho voluntário: estes, sim, pareciam ter melhorado o bem-estar. 

No entanto, o próprio autor ressalta: “O voluntariado oferece uma possível exceção, mas os efeitos estimados são pequenos e estas iniciativas não se relacionam diretamente com as exigências do trabalho nem com a compreensão do que significa o bem-estar no trabalho”.

Por outro lado, nenhuma das outras iniciativas – aplicativos, coaching, aulas de relaxamento, cursos de gerenciamento de tempo ou saúde financeira – teve algum efeito positivo explícito. 

Na realidade, verificou-se o contrário: formações como treinamento de resiliência e gerenciamento do estresse pareceram ter um efeito negativo.

“Nada de errado”

O autor sugere que os empregadores preocupados com a saúde mental dos trabalhadores fariam muito melhor se se concentrassem no essencial, como as práticas organizacionais, horários de trabalho, salários e avaliações de desempenho.

“Se os funcionários desejam ter acesso a aplicativos de atenção plena e bem-estar e programas de sono, não há nada de errado com isso”, disse Fleming ao jornal The New York Times. “Mas se você está realmente tentando promover o bem-estar dos funcionários, foque nas práticas de trabalho.”

De acordo com o jornal, a pesquisa de Fleming foi recebida com críticas e ressalvas, uma vez que a indústria de serviços de bem-estar corporativo vem crescendo nos últimos anos, com milhares de fornecedores competindo por bilhões de dólares. 

David Crepaz-Keay, chefe de pesquisa da Mental Health Foundation, do Reino Unido, descreveu os dados e a análise de Fleming como “certamente mais robustos do que a maioria das pesquisas que criaram o consenso de que esse tipo de assistência aos funcionários funciona”.

* É permitida a republicação das reportagens e artigos em meios digitais de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
O texto não deve ser editado e a autoria deve ser atribuída, incluindo a fonte (Science Arena).

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